segunda-feira, 1 de março de 2010

Doçuras

Vim lá do monte, daquele em que o sol toca na terra fresca e a neblina da manhã carrega consigo mil cheiros de intensa nostalgia. São os cheiros das gentes rodeadas do verde prado e do azul mar que apenas cobre o céu. Hoje lembrei-me de ti...como acontece todos os dias, sem excepção, porque é impossível esquecer aqueles que amamos verdadeiramente.
Apesar de já não estares comigo, sei que me guias com a doçura que te era especialmente única e que, modéstia à parte, a passaste para mim.
No teu sonho sorrimos ambas quando me deixaste, deste-me esse último presente...o teu lindo sorriso. É assim que me recordo de ti. Sinto a tua falta. Hoje quando preciso de correr...para aquele cantinho especial...fico parada, sem norte...ele já não existe. O que aqui ficou sem ti, já não é igual. As mudanças vieram com o vento. Tu eras aquela que no meio do caos davas as gargalhadas mais inesperadas e me deixavas a pensar que eu, apesar de novinha, era bem mais antiquada do que tu.
Aprendi tanto contigo.
Onde estás? Até hoje não deixei de te procurar...mas um dia sei que te encontro. Espero que sorrias para mim e me abraces muito, se o meu caminho for o mesmo que o teu.
Luta comigo.
Orgulho-me da mulher que foste. Orgulho-me da mulher que és. E eu...eu amava ser como tu...como a filha que deixaste e a neta que amaste.
Dá-me um sorriso. Lê o que te escrevo. Antes só o fazia quando fazias anos. Agora falo contigo como se não existisse o amanhã. És a minha única amiga presente.
Sempre foste a verdade e a companheira. A humilde e generosa e sempre bem-disposta mulher dos tempos modernos que ainda tropeçaram em ti. Fico feliz por ter saído de um pedaço de ti e desse pedaço me ter dado o melhor da tua casta. Deu-me a riqueza que trazias dentro do teu peito, deu-me o teu olhar, a tua força e hoje encaro o meu sorriso como sendo teu.
Amo-te senhora das minhas lágrimas. E por mais anos que passem vou estar sempre à tua espera.
És a seda que me traça a pele, o sangue que me corre nas veias e tenho de ti a inteligência de uma leoa que não baixa os braços nem quando os dias são de tempestade.
Vês como aprendi contigo?
Diz-me o que faço!
Agora que precisava do teu colo de avó materna, para onde eu corria quando dava ao mundo o meu sorriso e as minhas lágrimas.
Herdei de ti a alma e o coração...para os outros deixaste as semelhanças do teu corpo, onde às vezes fico quieta e incrédula a observar-te...são sangue do teu sangue e tão diferentes de mim.
Lembras-te que dizias que eu era a mais diferente de todos e que gostavas muito de mim, porque sabias que me podias confiar segredos? Podias falar sobre um qualquer assunto ao pé de mim que sabias que se me perguntassem eu diria que nada sabia, porque de nada me lembrava.
Aprendi contigo.
Há muito tempo que não sonho contigo. Desculpa, mas às vezes é melhor assim...prefiro olhar-te enquanto estou de olhos abertos...por agora!
És mulher de ferro. Foste uma mulher de armas e assim é aquela que também como eu é tão diferente daqueles que deixaste aqui...eu sou como ela e ela é como tu.
São guerreiras.
Nunca te conheci defeitos, por mais que rebusque memórias, momentos, minutos, segundos...davas sempre os passos certos. Até comigo subias ao topo da montanha e à noite quando passava as férias contigo, ficavas na cama, que outrora foi da minha águia, e adormecias-me às vezes a contar as tripéças do teu ninho. Era capaz de ouvir aquelas doces palavras vezes sem conta.
Até malandrices fazíamos juntas quando íamos na rua por qualquer motivo, porque brincar com os outros nunca foi pecado e tu também nunca foste muito uma mulher de igrejas...nisso sejas abençoada. Hipocrisia não era contigo.
Aprendi contigo.
Tenho saudades tuas.
Em dias de sol e porque sempre foste mulher de trabalho ia contigo para o meio do campo traçar a erva que me ensinaste a cortar...era divertido...e eu...miúda...tentava fazer a saga mais rápida para te mostrar que era capaz e me tinhas ensinado bem...
Do que já não mais existe, guardo o cheiro da cevada fresca, acabadinha de fazer quente quentinha...deliciosa...magistral...e já agora o pastel de nata que me trazias todos os sábados quando vinhas do mercado quando estava em tua casa.
Foi um miminho que a minha águia aprendeu contigo e eu...eu aprendi com ela...
Miminhos...

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